domingo, 3 de julho de 2011

Discurso de Formatura

Este foi o discurso que fiz na formatura das turmas do Curso Completo de Tarô e Técnicas Avançadas de Tarô.

Há quatro anos, quando perdi minha mãe, perdi, também, meu chão, meu porto seguro, perdi muito da minha vontade de viver. Paralelamente, estava num momento de grande envolvimento com o tarô. Deslanchava nos estudos, começa a me tornar conhecida no Orkut, ultrapassando os limites geográficos. Começava a dar cursos dos arcanos menores.

Foi um período de grandes mudanças. Por um lado, a vontade de largar tudo e me afogar em minha tristeza, aquietar-me no buraco escuro e sem fim que se fez em minha alma.

Por outro lado, sentia o chamado para envolver-me mais no estudo e na disseminação deste oráculo que há tão pouco tempo começou a ocupar um espaço em minha vida de maneira surpreendente, rápida e irreversível.

Tantas mudanças me deixavam tonta. Queria morrer, mas a vida insistia em me cutucar. Mais e mais pessoas se aproximavam de mim. Pessoas de diferentes lugares, com personalidades diversas, interesses múltiplos, mas com um desejo comum: esmiuçar, compreender, discutir e se envolver com o tarô.

E nessa deriva, deparei-me com uma psicóloga cromoterapeuta, que aliando o conhecimento acadêmico à sabedoria das cores e ao seu dom espiritual ajudou-me a encontrar a âncora que me prenderia novamente ao chão até definir a nova rota de minha vida.

Foi numa dessas sessões que deciframos um sonho estranho que descortinou um novo caminho e me devolveu a esperança e a fé.

Sonhei com minha amada e saudosa mãe. Não havia cenário, nem mais personagens. Apenas nós duas, num ambiente que podia ser qualquer lugar: vazio e inexpressivo. Sem passado ou história o sonho se resumiu a um pequeno, repetitivo e rápido diálogo.

Minha mãe me dizia: “você tem que colocar o prato na cabeça das pessoas”.

Angustiada, sabendo o que ela dizia, mas sentindo-me incapaz de obedecer sua ordem, eu retrucava:

- Mas como mãe? Eu não consigo fazer isso.

Com voz suave, mas firme, ela apenas repetia, como se não pudesse mais me orientar:

- Você tem que colocar o prato na cabeça das pessoas. Você precisa colocar o prato na cabeça das pessoas.

E assim se seguiu por alguns minutos, que me pareceram eternos. Acordei atordoada, confusa, curiosa. Sentia que minha adorada mãe era um mensageiro. Mais que uma ordem, era o anúncio de uma missão. Mas qual? O que queriam dizer aquelas poucas, mas tão curiosas palavras?

Ao relatar a experiência para Inácia, minha cromoterapeuta, desvendamos juntas o mistério. O prato é o utensílio que usamos para colocar nosso alimento, que nos nutre, nos dá vida, nos sustenta.

A cabeça é o órgão onde depositamos nossos pensamentos, nossos sonhos, nosso conhecimento. É nossa via de comunicação, de expressão, de interação com o mundo e com as pessoas. É a depositária e o guardiã de nossa sabedoria.

Entendemos, enfim, que colocar o prato na cabeça das pessoas é passar para elas a minha experiência, o meu conhecimento para que elas se nutram disso. É alimentar não o corpo, mas a mente daquelas pessoas que me buscavam. É transmitir para elas o conhecimento que alimentaria, além da mente, as suas almas. É disseminar o tarô!

E a partir desse entendimento, reconheci que não podia encerrar em mim o conhecimento que o universo me oferecia sobre esse oráculo maravilhoso. Que fazia parte de minha missão, colocar o prato na cabeça de mais pessoas que, por sua vez, fariam o mesmo e, assim, se formaria uma rede infindável e viva. Um caminho eterno que se propaga e envolve cada vez mais pessoas.

E hoje, depois de percorrer esse novo caminho sem volta, retorno aqui para cumprir, mais uma vez, a missão que recebi. Colocar o prato na cabeça de cada uma de vocês. Espero, do fundo de meu coração, que vocês se alimentem e se fartem desse alimento, mas que também, o compartilhem com outras pessoas famintas de sabedoria e orientação. Não coloquem o prato na cristaleira. Coloquem-no numa mesa comunitária. Multipliquem esse pão, para que nunca falte alimento à quem precisa. Façam sua parte e usem seus próprios temperos para saciar a alma das pessoas que encontrarem em seus caminhos. O prato é apenas um utensílio; quem escolhe e prepara o alimento que ele carrega somos nós. Então minhas amigas, coloquem o avental que eu as convido a serem as novas chefs do tarô.

Bem, agora vamos então diplomar as novas chefs. Pensei em pratos que combinem com cada uma das formandas.

A primeira turma, do Curso Completo de Tarô, eu costumo brincar que é formada por umas macumbeiras. Duas delas são espíritas e a outra ainda não resolveu, mas tem um pezinho no terreiro. Escolhi, então, comidas típicas de oferendas, pra relembrar o clima das aulas noturnas.

A primeira é uma estudiosa de umbanda. Conhece tudo dessa religião tão intrigante. E pra combinar com seu sorriso sempre largo, pensei no munguzá prá Graça Vieira lembrar.

A outra também gosta de um terreiro, mas não é tão disciplinada. Um prato que santo também gosta pode representar essa moça, que tem personalidade forte, consistente como o Vatapá. Valéria vem prá cá apimentá.

E a última é só curiosa. Tem intuição, mas tem medo e não deixa a crença fluir. Prá combinar com essa pessoa, inquieta e eletrizante, uma pipoca cai bem, pois Cássia fica nesse vai e vem.Vem, que o canudo é seu.

Já a turma do Avançado é mais eclética no quesito religião. As filosofias se assemelham e buscam sempre a união.

A primeira é uma chef que prá aprender a cozinha já foi para o exterior. Mas seu principal ingrediente é o amor. A batata turca Kumpir, prá ver a nossa querida Dodôra sorrir.

O Estrogonofe lembra bem nossa terceira formanda. Elegante, refinada e deliciosamente aconchegante. Inês, vem buscar o diploma, que chegou a sua vez

Um prato bem quentinho como o Sol que a ilumina, vai combinar com a terceira, que é da turma a mais nova menina. Dri, o caldo de legumes te representa aqui.

A quarta chef é muito doce e suave, como as quitandas que fazia com carinho. Então a Berna lembra a broa de fubá, acompanhada de um café quentinho.

A última desta turma, sempre some e desiste no meio do caminho. O prato para a Cris não poderia ser outro que não o escondidinho.

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