Conversa de princesa
Este é o texto escrito por mim e representado por Inês Daibert e Bernadete Maia, como trabalho final do curso Técnicas Avançadas de Tarô. Foi apresentado em 2 de julho de 2011.
Nossas amigas Berna e Inês vão fazer uma pequena apresentação, personificando características de alguns arcanos. A história narra uma hipotética conversa entre a princesa Diana e sua grande amiga, a ex-embaixatriz Lúcia Flecha de Lima. A proposta é que a plateia identifique quais os arcanos estão sendo representados. São três personagens: a princesa, encarnada por Inês Daibert, sua confidente, protagonizada por Bernadete Maia; e o príncipe Charles, personagem invisível que é o pivô do diálogo. Então vamos lá!
Numa cinzenta e morna manhã de outono, num dos mais íntimos e escondidos aposentos do suntuoso Palácio de Buckingham, em Londres, a princesa Diana abre seu coração para sua mais íntima amiga, a brasileira Lúcia Flecha de Lima.
Diana: Minha amiga, que bom que atendeu ao meu apelo. Estou tão angustiada.
Lúcia: Ora Di, não tem o que agradecer, afinal amigos são para essas horas não é? Me conte sua aflição.
Diana (chorosa e melodramática): Ai Lucinha, meu coração está dilacerado, minha cabeça muito confusa, minha alma...
Lúcia (interrompendo a amiga): Deixa de drama e lenga-lenga Di. Vai direto ao assunto. Não estamos representando pra ninguém né? Fala logo qual é o babado.
Diana (cochichando como se estivesse medo de ser ouvida): é que eu tô muito indecisa e preciso de uma orientação.
Lúcia: por quê está cochichando? Ninguém vai nos ouvir nesse fundão do castelo.
Diana (em tom normal, como se caísse a ficha): é o costume Lucinha. Aqui até as paredes têm ouvido. E línguas enormes. Bem, mas vamos lá. É sobre o Charles...
Lúcia (interrompendo novamente): ih! lá vem você de novo falando desse homem. Vocês já não tinham rompido? As fofocas na corte falam até que ele já se enrabichou com aquela mocréia da Camila...
Diana: sim, é verdade, mas o problema está exatamente aí. Ele está me rodeando de novo, falando em reconciliação, essas coisas. Ai, Lucinha, ele tá tão romântico
Lúcia: Ah, não, Di, não acredito que você vai cair nessa de novo. O cara é um safadão. Todo mundo sabe que só casou com você pra agradar a rainha e ficar bem na fita.
Diana: mas agora parece que ele mudou. Tá tão diferente, apaixonado, romântico, ardente (demonstrando que começa a ficar com tesão). Ai, até arrepio!
Lúcia (resmungando): lá vem o golpe...
Diana: O que você disse?
Lúcia: nada, nada, minha amiga. Mas pensa bem, ele nunca largou a Camila. Você acha que vai largar agora?
Diana: acho, Lucinha. Ele parece tão sincero...
Lúcia (resmungando): Santa Inocência!
Diana: Hã?
Lúcia: Di, minha amiga, não tô querendo ser rude. Mas se me chamou é porque quer meu conselho não é?
Diana: Claro querida.
Lúcia: então vou ser direta pra ver se você entende: desencana minha filha. Presta atenção. Esse cara não vale nada. É um bom vivant, um traíra, mentiroso, falso...
Diana: Credo, Lucinha, você também é muito amarga. Não acredita que as pessoas possam mudar?
Lúcia: NÃO!
Diana: Que horror! Isso é porque você não viu como ele está diferente. Até me mandou uma lingerie nova dizendo que é pra eu usar nos nosso encontro.
Lúcia: que encontro?
Diana: hoje à noite ele vem aqui. Pediu que eu deixasse a janela destrancada, porque ele vai escalar as paredes. Não é romântico?
Lúcia: Romântico? Isso é desnecessário! Ele não tem mais a chave do palácio?
Diana: Ai, Lucinha, claro que tem, mas ele quer criar um clima, não entendeu? Ah, deixa pra lá, você não é mesmo nem um pouco romântica, não vai compreender. Bem, isso não interessa. O fato é que eu te chamei aqui pra te contar que eu vou retomar meu casamento. Será melhor pra todos, para os meus filhos, para mim, para o Charles, para a Inglaterra!
Lúcia (cochichando): Exagerada! Tá bom, Di, já vi que nada do que eu disser vai mudar sua ideia. Eu só queria que você ficasse mais esperta amiga. Esse amor pode acabar te matando.
Diana: Como assim Lucinha?
Lúcia: é só força de expressão, Di. Claro que você não vai morrer, pelo menos espero que não por causa desse pulha. Quer um conselho? Esqueça esse Charles narigudo, olhe em volta! Existem outros homens muito mais interessantes. Já andou olhando os serviçais? Hum, tem cada um...
Diana (interrompendo): Credo, Lucinha, olha a compostura! Eu hein? Tenho um nome a zelar, afinal sou uma princesa!
Lúcia: Hã hã... (desdenhando). Vamos fazer uma coisa. Vamos pedir um conselho para o tarô. Pergunte se você deve voltar para o Charles.
Lúcia: Veja amiga, saiu a torre
Diana: e o que isso quer dizer? que vamos mesmo voltar a morar num castelo?
Lúcia: Nada disso Di, quer dizer NÃO. Você não deve voltar pra ele. Deve desistir dessa ideia, esquecer o passado, quebrar paradigmas.
Diana: para o quê?
Lúcia: Paradigmas, Di, ou seja, romper os padrões, entendeu? Bem, de qualquer forma é não.
Diana: eu não acredito nas cartas. Vou seguir meu coração.
Lúcia: as cartas não mentem, Di. Depois não diga que o tarô não avisou.
Diana (saindo, com ar de confiança, o rosto levantado): Confio mais nas palavras do Charlezinho. Ele mudou! Tenho certeza!
Lúcia (também saindo, dando de ombros): Pago pra ver o fim dessa história. (voltando pra plateia). Vocês já sabem qual é né?
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